segunda-feira, 27 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Guimarães moçambicano

Para mim, Mia Couto é o equivalente moçambicano do nosso Guimarães Rosa. O trabalho inventivo e laborioso com a linguagem, o embrenhar-se pelos rincões populares cada qual de seu país e a melancolia árida e forte das gentes abandonadas são marcas das duas literaturas. A beleza poética que te seduz e te permite ler o áspero como se suave fosse, também.

Abaixo o começo de dois contos do livro "O fio das missangas", publicado em 2004 pela Companhia das Letras:

"Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança" (Inundação, pág. 25)

"Na minha vila, a única vila do mundo, as mulheres sonhavam com vestidos novos para saírem. Para serem abraçadas pela felicidade. A mim, quando me deram a saia de rodar, eu me tranquei em casa. Mais que fechada, me apurei invisível, eternamente nocturna. Nasci para cozinha, pano e prato. Ensinaram-me tanta vergonha em sentir prazer, que acabei sentindo prazer em ter vergonha" (A saia almarrotada, pág. 29).

terça-feira, 14 de julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Pra quem gostou d'A Elegância do Ouriço...

Voltando do Rio nesse final de semana, me deparei, na livraria do aeroporto, com o recém-publicado (no Brasil) "A morte do gourmet", primeiro livro da Muriel Barbery, autora do extraordinário "A elegância do ouriço". Comprei e devorei - ou, melhor dito, neste caso, degustei. O livro é uma verdadeira viagem gustativa. Maravilhoso, apesar de menos intenso e mais efêmero que "A elegância...". Seguem abaixo alguns trechos, para despertar os paladares e a curiosidade...

"...isso é que é bom na hora dos doces: só são apreciados em toda a sua sutileza quando não comemos para matar a fome e quando essa orgia de doçura não satisfaz a uma necessidade primária, mas cobre nosso palato com a benevolência do mundo" (pp. 24).

"A carne é viril, poderosa, o peixe é estranho e cruel. Vem de outro mundo, o de um mar secreto que jamais se entregará, demonstra a absoluta relatividade da nossa existência e, no entanto, dá-se a nós no desvendamento efêmero de uma região desconhecida. Quando eu saboreava aquelas sardinhas grelhadas, como um autista a quem nada, naquela hora, conseguia perturbar, sabia que me tornava humano por esse extraordinário confronto com uma sensação vinda de outros lugares e que me ensinava, por contraste, minha qualidade de homem" (pp. 36).

"Deus, isto é, o prazer bruto, sem partilha, aquele que sai do núcleo de nós mesmos, que só leva em consideração nosso próprio gozo e que da mesma forma volta a ele; Deus, isto é, essa região misteriosa de nossa intimidade em que estamos inteiramente entregues a nós mesmos na apoteose de um desejo autêntico e de um prazer sem mistura" (pp. 124).

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Para Joana

Jojô tava doente - gripada, mas (ufa!) nada de suinidades nessa gripe. E como mora longe, fora do alcance dos nossos cuidados e mimos, disse a ela que tomasse mingau todo dia de manhã, que era acalanto de aquecer a alma. Mingau é que nem colo. Te esquenta, te aninha, te protege.

Uma outra amiga - a Angelita, do renew! - sempre recomenda chocolate quente à noite, antes de dormir. Também é uma boa receita de colo, ou de auto-colo. Chocolate quente à noite e mingau de manhã, então, é imbatível, a pessoa até se cansa de tanto colo.

Também embalam: rede num final de tarde nem muito frio, nem muito quente; um bom café expresso com um pedaço generoso de chocolate; assistir Cantando na Chuva (Mary Poppins também serve) pela enésima vez; uma boa cama com um bom livro num dia de chuva.