segunda-feira, 28 de setembro de 2009

À lua

Há dias em que a lua aparece branca
Inteira
Iluminada

E o reverso faz-se direito
Teso, retilíneo.
Mas também leve e fugidio
Quase corriqueiro
Quase corredio
Quase sombra se não fosse luz

E o revolto faz-se pacífico
Lento e dourado
Caminhando pela áurea escuridão alumiada
Embalado por um cântico de eternas noites
De eternas notas
De infinitos suspiros
De ventos quase brisas
E de brisas quase ventos

E as cores, já menos cores
Espelham brilho
Ressaltam contornos
Abrem caminhos
Para deixar passar a lua
Que às vezes surge inteira
Branca
Iluminando

Nina Madsen

domingo, 20 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Independência de quem, mesmo?

Tenho sim um lado ufanista. Apesar dos pesares, adoro o Brasil e adoro propagandar as maravilhas da nossa terra por aí. Nada de carnaval e futebol - muito óbvio, muito clichê, muito irritante. Mas a música, a criatividade, o colorido, a diversidade cultural e o espírito leve, informal e, sempre que possível, alegre desse país. É isso o que desperta meu ufanismo, mesmo nos momentos de mais profunda desilusão.

O 7 de setembro definitivamente não me comove. Acho meio patética a insistente tentativa de fazê-lo parecer às demais festas nacionais mundo afora e essa história de desfile militar é o fim. A data não desperta nenhum sentimento profundo de amor à pátria, não te permite nenhuma associação ou vinculação a um processo real e generalizado de independência. Pra mim, a única independência que se proclamou naquele 7 de setembro foi a de D. Pedro, que ali, às margens do Ipiranga, decidiu que era já bem grandinho para seguir obedecendo a seu pai. Saiu bem na fita, o rapaz. Virou imperador e levou este enorme país verde e amarelo.

Desse momento em diante, o que o Brasil experimentou foi uma longa sucessão de dependências as mais diversas.

Independência de verdade, acho que é outra coisa. E, no nosso caso, acho que são alguns e plurais momentos ao longo de uma história mais recente. O sufrágio universal, a constituinte de 1988, a eleição do Lula, o FMI saindo do país. Foram todos gritos de independência bem mais audíveis, bem mais reais que aquele remoto "Independência ou Morte".

Hoje, portanto, aproveito o feriado para saudar nosso país e nosso povo por estar continuamente conquistando sua independência, apesar do 7 de setembro...

domingo, 6 de setembro de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009

Appris par corps

Ontem fui assistir ao espetáculo Appris par Corps, da companhia Un loup par l'homme, parte da programação do Cena Contemporânea desse ano (aliás, imperdível!).

São dois homens no palco, dialogando através da dança e da acrobacia de uma maneira impressionante. Apesar da intensidade dos movimentos, há muita leveza, fluidez e sintonia, o que acaba por eliminar, em boa parte do tempo, aquela suspensão da respiração típica de espetáculos circenses/acrobáticos.

Vale a pena ver pela beleza e precisão do trabalho corporal, pelo bom-humor do espetáculo e pelas reações da platéia - umas das partes mais divertidas da noite, eu achei. Metade achava que estava diante de um quadro circense; a outra, pensava que assistia a um super cult espetáculo de dança contemporânea. Resultado: no meio do espetáculo, depois de uma acrobacia impressionante qualquer, a primeira metade aplaudia e soltava gritinhos de empolgação (como no circo), enquanto a outra metade, com cara feia e arrogante, pedia silêncio num coro de ssshhhhhh (como que pedindo o silêncio necessário à apreciação da arte em cena). Hilário!