Qual não foi a minha surpresa ao ler, essa semana, que o cantor Belchior está desaparecido há 2 anos! Não sou fã de Belchior, nem um pouco fã, aliás, e não tinha a menor idéia de que o cara andava sumido há tanto tempo. O fato é que a história me intrigou. Não, a história me fascinou! Como é que pode uma figura pública como ele simplesmente sumir sem deixar rastro? Imediatamente me veio à cabeça a óbvia tentação: se ele consegue, será que eu também não posso tentar?
Digo óbvia porque no dia seguinte eu já lia na Folha que Tom Zé anunciava vontade de entrar na onda. É claro. Quem é que não quer tomar um belo chá de sumiço de vez em quando?
Digo óbvia porque no dia seguinte eu já lia na Folha que Tom Zé anunciava vontade de entrar na onda. É claro. Quem é que não quer tomar um belo chá de sumiço de vez em quando?
Fiquei imaginando as situações possíveis e viajando na história.
Cena possível # 1: de saco cheio de tudo e de todos, depois de um dia alucinante de trabalho e conflitos, Belchior, dirigindo seu conversível azul (??), decide não virar à esquerda como todos os dias, mas sim seguir reto atéééééé não poder mais. Ao longo do percurso, ele vai, quilômetro a quilômetro, se despojando de cada amarra, de cada obrigação, de cada conflito. Sem mala, sem dinheiro, sem planejamento de viagem. Sem destino certo. Ele vai dirigindo. De repente, a luz da gasolina acende e ele decide que é hora de parar. Pronto. Começa aí a nova vida de Belchior.
Cena possível # 2: ele sai apressado de casa pra não se atrasar pra reunião super importante com o empresário dele: salvamento de carreira. Pega um táxi e, no meio do caminho, recebe uma ligação do dito cujo que avisa que deu xabu: nem adianta reunião, conversa, nada. A gravadora já disse que nem fudendo. Belchior desliga o telefone e, num clarão de entendimento, pede pro taxista mudar de rumo e seguir pro aeroporto. Lá, ele procura o balcão mais vazio e compra uma passagem pro destino mais improvável - no Brasil ou no Mercosul, é claro, porque o cara não ia sair com o passaporte de casa assim, sem mais nem menos. Embarca e desaparece. Começa aí a nova vida de Belchior.
Cena possível # 3: essa, na verdade, é a mais chata - é a planejada, arquitetada, com direito a visto pra Bora Bora, mala pra 3 meses e cartas de despedida ultra rascunhadas. Não tem graça.
Eu não conheço as condições do sumiço do cidadão, não li as matérias, não vi o Fantástico. De repente a história é muito trágica e eu tô aqui me divertindo com a desgraça alheia. Espero que não. Em todo o caso, não pude evitar ser tomada por essa inspiração retórica de sumir também. É que a vida às vezes se enrosca na gente de um jeito que nem parece nosso. É como de repente acordar e se ver personagem de uma história que não é tua. E aí o jeito é sair. "E se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar, quando eu me encontrar...". Boa sorte pro Belchior...