sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O sumiço do Belchior - será que pega?

Qual não foi a minha surpresa ao ler, essa semana, que o cantor Belchior está desaparecido há 2 anos! Não sou fã de Belchior, nem um pouco fã, aliás, e não tinha a menor idéia de que o cara andava sumido há tanto tempo. O fato é que a história me intrigou. Não, a história me fascinou! Como é que pode uma figura pública como ele simplesmente sumir sem deixar rastro? Imediatamente me veio à cabeça a óbvia tentação: se ele consegue, será que eu também não posso tentar?

Digo óbvia porque no dia seguinte eu já lia na Folha que Tom Zé anunciava vontade de entrar na onda. É claro. Quem é que não quer tomar um belo chá de sumiço de vez em quando?

Fiquei imaginando as situações possíveis e viajando na história.

Cena possível # 1: de saco cheio de tudo e de todos, depois de um dia alucinante de trabalho e conflitos, Belchior, dirigindo seu conversível azul (??), decide não virar à esquerda como todos os dias, mas sim seguir reto atéééééé não poder mais. Ao longo do percurso, ele vai, quilômetro a quilômetro, se despojando de cada amarra, de cada obrigação, de cada conflito. Sem mala, sem dinheiro, sem planejamento de viagem. Sem destino certo. Ele vai dirigindo. De repente, a luz da gasolina acende e ele decide que é hora de parar. Pronto. Começa aí a nova vida de Belchior.

Cena possível # 2: ele sai apressado de casa pra não se atrasar pra reunião super importante com o empresário dele: salvamento de carreira. Pega um táxi e, no meio do caminho, recebe uma ligação do dito cujo que avisa que deu xabu: nem adianta reunião, conversa, nada. A gravadora já disse que nem fudendo. Belchior desliga o telefone e, num clarão de entendimento, pede pro taxista mudar de rumo e seguir pro aeroporto. Lá, ele procura o balcão mais vazio e compra uma passagem pro destino mais improvável - no Brasil ou no Mercosul, é claro, porque o cara não ia sair com o passaporte de casa assim, sem mais nem menos. Embarca e desaparece. Começa aí a nova vida de Belchior.

Cena possível # 3: essa, na verdade, é a mais chata - é a planejada, arquitetada, com direito a visto pra Bora Bora, mala pra 3 meses e cartas de despedida ultra rascunhadas. Não tem graça.

Eu não conheço as condições do sumiço do cidadão, não li as matérias, não vi o Fantástico. De repente a história é muito trágica e eu tô aqui me divertindo com a desgraça alheia. Espero que não. Em todo o caso, não pude evitar ser tomada por essa inspiração retórica de sumir também. É que a vida às vezes se enrosca na gente de um jeito que nem parece nosso. É como de repente acordar e se ver personagem de uma história que não é tua. E aí o jeito é sair. "E se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar, quando eu me encontrar...". Boa sorte pro Belchior...

sábado, 22 de agosto de 2009

Uma pausa de mil compassos

Diz o meu avô que a chuva de agosto é a chuva do caju e que, esse ano, ela chegou uns 15 dias atrasada - o tempo dela é, na verdade, o início do mês, quando os cajueiros começam a florescer anunciando a fartura dos frutos. Mas, pelo caju ou não, o fato é que a chuva de ontem nos surpreendeu a todos.

Impõe um certo momento de suspensão, uma chuva em pleno período de seca em Brasília. É como se tudo o mais parasse e perdesse a importância durante aqueles breves minutos em que a água vai caindo. O vento, o cheiro, o som. A chuva é um pacote completo de despertar sensorial. Enleva e eleva. Pelo menos aqui, nessas terras áridas do planalto central. A chuva aqui definitivamente não é a mesma chuva de São Paulo ou do Rio, onde ela anuncia mais catástrofe que redenção.

Acho que essa chuva de ontem nos alivia um pouco desse arrastar sem fim que é o mês de agosto. Outro dia, uma amiga comentou que agosto parecia ter 20 semanas - não acabava nunca! Respondi a ela que era porque agosto é o começo do fim: é o primeiro mês útil do fim do ano, é quando nos damos conta de que nosso arbitrário tempo está se acabando. Aí é aquela correria louca - de repente se esgotam todos os prazos do mundo e os dias parecem não ter fim.

Daí vem a chuva pra nos avisar que, com prazo ou sem prazo, o Tempo não é nosso. E que mais vale então parar por 10 minutos pra sentir a brisa e o perfume da terra molhada. Merecida pausa de mil compassos num mês de 20 semanas....

domingo, 2 de agosto de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

Sobre canções e orações

Há algo de religioso, de espiritual na música. E há canções que, pra mim, são como orações. Me tocam, emocionam e elevam muito mais que qualquer reza de dizer com livro na mão - seja lá qual for o livro. A música e a dança são minhas pontes para o divino, para a transcendência. Não te pedem nada em troca, não te enquadram nos limites de uma identidade, não separam - reúnem.

Outro dia postei um vídeo de Elis Regina cantando Águas de Março - bonito demais. Uma oração de força e de cadência. Outra que gosto muito de repetir, e que tem inclusive "oração" no nome, é a Oração ao Tempo, de Caetano: "Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso, tempo, tempo, tempo, tempo, quando o tempo for propício...". Eita, que é bonito...

E tem Sonho Meu, também, de Dona Ivone Lara. Cantada pela Marina de la Riva, ficou um primor. Deixo o vídeo pra vocês se elevarem comigo...