Meu filho nasceu com grandes olhos, como os meus. Olhos ávidos, curiosos; ora doces, ora penetrantes. Saiu de mim assim, duas jabuticabas olhando pro mundo e chorando ante o susto que é chegar. Meu filho nasceu num dia 7, num mês de maio, no alvorecer brasiliense de uma sexta-feira branca.
Meu filho nasceu há 4 meses e meio e me sento a escrever somente agora, tomada de repente por esse eterno, ainda que às vezes adormecido, desejo da escrita que mora em mim.
Prometi que não seria esse blog um diário público e tenho a intenção de cumprir a promessa. Mas, nesse momento, não podia me sentar aqui a escrever sobre outra coisa a não ser sobre os grandes olhos de meu filho, porque são esses olhos que eu agora vejo em tudo o que vejo. É como se eu agora tivesse quatro, e já não mais apenas dois - os meus - olhos. Dei meus olhos ao meu filho e ganhei os dele troca. E me emociono sempre acompanhando os primeiros olhares dele para cada coisa, porque é um pouco como se eu também revisse cada coisa pela primeira vez. Olhar pra ele olhando pra mim é como entrar numa viagem caleidoscópica. Nada mais existe, só aquele infinito entre nossos olhares.
Os olhos grandes de meu filho renovam e iluminam os meus. Me aprisionam e me libertam. Imprimem novos significados ao que sempre existiu diante dos meus olhos. A vida continua a mesma e é, ao mesmo tempo, completamente nova. E eu que imaginava a maternidade como a experiência máxima de libertação do eu, entendo agora que ela é, na verdade, uma profunda e permanente viagem pelo eu - um confrontar sem cessar dos espaços habitados e dos ainda desertos das profundezas da individualidade.
Ah, meus olhos grandes... agora maiores ainda...
Pois os meus olhos grandes estão cheios d'água.
ResponderExcluirOs meus tb, Dani!
ResponderExcluirEspecialmente por me imaginar na história... vendo que, daqui a pouco, vou tb começar a contá-la a partir dos meus olhos, não tão grandes, mas meus.
Lindo texto, Ni!
Os meus também estão inundados de lágrimas... E me vejo, também mergulhada nos olhos do meu filho, nas suas palavras.
ResponderExcluirQue bom que voce voltou a escrever aqui. Eu sempre olhava para ver se tinha algo novo. Obrigada.
Dri