sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Aos olhos grandes do meu filho

Meu filho nasceu com grandes olhos, como os meus. Olhos ávidos, curiosos; ora doces, ora penetrantes. Saiu de mim assim, duas jabuticabas olhando pro mundo e chorando ante o susto que é chegar. Meu filho nasceu num dia 7, num mês de maio, no alvorecer brasiliense de uma sexta-feira branca.

Meu filho nasceu há 4 meses e meio e me sento a escrever somente agora, tomada de repente por esse eterno, ainda que às vezes adormecido, desejo da escrita que mora em mim.

Prometi que não seria esse blog um diário público e tenho a intenção de cumprir a promessa. Mas, nesse momento, não podia me sentar aqui a escrever sobre outra coisa a não ser sobre os grandes olhos de meu filho, porque são esses olhos que eu agora vejo em tudo o que vejo. É como se eu agora tivesse quatro, e já não mais apenas dois - os meus - olhos. Dei meus olhos ao meu filho e ganhei os dele troca. E me emociono sempre acompanhando os primeiros olhares dele para cada coisa, porque é um pouco como se eu também revisse cada coisa pela primeira vez. Olhar pra ele olhando pra mim é como entrar numa viagem caleidoscópica. Nada mais existe, só aquele infinito entre nossos olhares.

Os olhos grandes de meu filho renovam e iluminam os meus. Me aprisionam e me libertam. Imprimem novos significados ao que sempre existiu diante dos meus olhos. A vida continua a mesma e é, ao mesmo tempo, completamente nova. E eu que imaginava a maternidade como a experiência máxima de libertação do eu, entendo agora que ela é, na verdade, uma profunda e permanente viagem pelo eu - um confrontar sem cessar dos espaços habitados e dos ainda desertos das profundezas da individualidade.

Ah, meus olhos grandes... agora maiores ainda...

3 comentários:

  1. Pois os meus olhos grandes estão cheios d'água.

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  2. Os meus tb, Dani!
    Especialmente por me imaginar na história... vendo que, daqui a pouco, vou tb começar a contá-la a partir dos meus olhos, não tão grandes, mas meus.
    Lindo texto, Ni!

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  3. Os meus também estão inundados de lágrimas... E me vejo, também mergulhada nos olhos do meu filho, nas suas palavras.
    Que bom que voce voltou a escrever aqui. Eu sempre olhava para ver se tinha algo novo. Obrigada.
    Dri

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