domingo, 3 de outubro de 2010

Woody Allen, E. E. Cummings, Zeca Baleiro

Ontem à noite, assisti, pela enésima vez, "Hannah e suas irmãs", do Woody Allen. Gosto desse filme, apesar de não gostar muito das personagens femininas que aparecem nele. Gosto do enredo, do ritmo e, principalmente, do poema de E. E. Cummings que aparece na história. Lindo. "Nobody, not even the rain, has such small hands"... E aí lembrei da versão musicada que Zeca Baleiro fez a partir da tradução de Augusto de Campos ("ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas"). Lindo também. Deixo aí o poema e o link para o Baleiro cantando. Um pouco de poesia pra reacender as esperanças depois da constatação da inevitabilidade do segundo turno...

Nobody, not even the rain, has such small hands

E.E.Cummings

somewhere i have never traveled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands


Nalgum lugar, de E. E. Cummings (tradução de Augusto de Campos)

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas



Um comentário:

  1. Oi assisti este filme e fiquei curioso para ler o poema com calma, obrigado por disponibilizar, não sabia que o Zeca Baleiro tinha feito um versão musical. Muito bom. Um abraço

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